por Luiza Pimentel, Luiza Tokita, Ricardo e Francisco
Era uma noite muito fria, com ruas vazias, sem nenhuma estrela no céu. Como se o sereno comesse a cidade de uma forma secretamente rasteira. Na rua Europa, uma rua sem vida e vazia, de repente um clarão no quintal da casa ofuscou os olhos de um velho casal. Na pequena casa número 72. Era meia-noite. Bateram na porta da casa do casal, que rangeu como se quisesse dizer algo. Os idosos atenderam a porta e se depararam com um menino. Que falou:
– Boa noite, desculpe incomodar… – disse o menino até ser interrompido pela velha:
– Quem é você, sai daqui agora e vá para a sua casa, já é muito tarde!! – disse a velha muito irritada.
– Me desculpe, senhores, mas… não tenho abrigo… já vou indo boa noite e obrigado pela atenção- disse o menino intimidado e apressado.
– Mas o que… você não tem abrigo?!… – disse o velho.
– Pode ficar aqui por um tempo… se precisar – disse o velho olhando pra velha para ver sua reação, nada boa
– Está bem, mas… Não pisa na cozinha, não sobe nos quartos…- disse a velha subindo as escadas e batendo os pés.
O menino aparentava ter dez a doze anos de idade, tinha saúde, mas tinha uma coisa estranha, cinco folhas nascendo em suas pernas, não saiam. Era mágico.
Tommy, que ficou no sofá da sala, estava quase pegando no sono quando de repente sentiu uma leve cócega em suas pernas e viu que uma de suas folhas havia caído, não eram mais cinco folhas em suas pernas, e sim quatro.
No dia seguinte, a velha acordou e desceu para tomar seu café, quando viu o menino em seu quintal, regando as poucas flores que ainda estavam vivas, algumas amarelas outras rosas e azuis e outras marrons e secas como se tivessem torradas. A velha entrou no quintal e exclamou:
– O que é isso? O que você está fazendo com minhas plantas? Está estragando meu quintal!
– Bom dia, senhora! Estou apenas regando suas plantas. Estão um pouco desbotadas, não? – disse Tommy, rindo…
– Saia já daí! – disse ela, estranhando o menino.
– Sim, senhora, desculpe – disse ele, e entrou na casa.
Passou um bom tempo e já era fim de tarde, o sol já estava quase desaparecendo e os idosos liam calmamente em suas poltronas, quando o menino chegou e começou a falar:
– Venham, venham! Vocês vão perder o lindo por do sol que está fazendo hoje, venham, venham rápido, venham ver! Daqui a pouco não vai dar mais para ver.
– Mas o quê? Você me atrapalhou na leitura por conta de um simples por do sol? – disse a velha resmungando.
– Me desculpe, senhora, é que está muito bonito! Não podia deixar de falar – disse Tommy com ar calmo. Você gostaria de vir? – disse ele, se dirigindo ao velho.
– É claro que não, garoto, saia daqui! – disse a velha mais irritada ainda.
– Se está tão bonito assim… Hum… Eu acho que vou. – disse o velho com um olhar de medo para a velha.
Mas logo saiu da sala junto a Tommy. Pareceu a Tommy que a velha controlava o velho. Tommy estava entusiasmando e, sua segunda folha caiu.
Nem deu tempo de se perguntar por que aquilo tinha acontecido novamente, pois o velho já estava falando com ele. O menino se emocionou, ficou preocupado com o que podia acontecer.
Sentaram na cadeira da varanda começaram a conversar ! O velho se emocionou e disse:
– Isso… isso… – falou o velho gaguejando – Lembra minha infância, correndo atrás do cachorro, andando de carrinho de rolimã, passeando no parque, brincando de pega-pega, pulando a corda, jogando bola. Bons tempos eram esses. – disse o idoso, emocionado.
Os dois começaram a conversar juntos na varanda dando risadas e contando histórias. Em um momento o velho observou que ao brincarem e conversarem um pouco, Tommy tinha folhas em suas pernas e que uma delas caiu, o idoso estranhou, mas ficou quieto. A velha começou a olhar aquilo pela janela, aquela amizade sendo criada, pareceu ficar com ciúmes e resolveu querer se aproximar, mas ainda estava um pouco insegura e indecisa se devia fazer isso, tinha que continuar sendo dura, mas ela se perguntava por que.
Passaram quatro dias após isso, a situação continuou a mesma, todas as tardes o velho e Tommy na varanda observando o por do sol, tentaram chamar a velha mas… ela não ia, por nada.
Também agora nas manhãs de inverno, úmidas, mas felizes, com as árvores em um tom de vermelho alaranjado como o Sol, não era apenas Tommy o menino regando as flores, e sim ele e o velho.
A idosa, que apenas sofria calada tentando esconder o afeto pelo menino, estava esperando ele ter uma reação com ela. Pois bem, isso que aconteceu, estava indo ao super mercado quando Tommy chegou e perguntou se ele podia ir junto a ela, ela tentando manter seu papel de chata, disse que sim, mas só se ele não abrisse a boca. Os dois estavam saindo quando Tommy tropeçou no degrau da escada e a velha cedeu, começou a rir muito e o menino também e então começaram a conversar sobre a vida, rindo. A quarta folha caiu.
Uma semana se passou e os idosos falaram:
– Para onde pretende ir? – perguntaram com um ar de preocupação.
– Não sei ainda… – respondeu o menino.
– Pode ficar aqui mais um tempo, se quiser – disse a velha intimidada.
O menino aceitou. Os velhos depois de passarem os dias junto com o menino, estavam gostando muito dele, eles lhe deram um enorme quarto, roupas novas, o colocaram na escola. Era como um filho. Chegou o último dia na casa para Tommy. Para se despedir o casal decidiu dar uma festa. Convidaram amigos de infância, vizinhos com seus filhos, colegas de Tommy do colégio e algumas outras pessoas.
A festa estava boa, até que o menino observa sua perna. Sua última folha estava meio fraca, preste a cair. Não tinha o que fazer. Subiu ao seu quarto no segundo andar despercebido, e não voltou mais a festa.
Os velhos se divertiram bastante e esqueceram de Tommy. Algumas horas depois, todos os convidados foram embora. Só restou os velhos cansados, porém felizes. Arrumaram a casa e foram se despedir do menino e lhe dar o presente tão esperado, comprado para ele. O velho e a velha foram pegar o presente, mas não acharam Tommy, foram ao segundo andar e nada, os senhores desesperados começaram a correr pela casa enxergando apenas a luz do luar, a cada passo que davam, a tabua do chão estremecia, respirando profundamente o velho começou a tremer e começou a correr na direção ao quarto de Tommy. Conseguiu ver, por uma fresta na porta do quarto, uma luz leve, uma luz de esperança. Aliviados, ele foi ao quarto, abriu a porta. Mas só a janela aberta e uma folha caída no chão.